terça-feira, 9 de dezembro de 2008

RIO MARANHÃO

MANOEL HERCULANO

Eu quero me comunicar com cada um que veio
E já que estou aqui eu não quero fazer feio
Pois se não viemos a este mundo a passeio
Já é tempo de olho no olho e não só de e-mail.
Quero falar pessoalmente ao coração sem rodeio
Mas se você está distante onde só chega o correio
Nesse mundão de meu Deus, este Deus que eu tanto creio
Me mande uma carta, um bilhete, e eu prometo que leio

Ô de casa, dá licença/ Sou do Rio Maranhão
Faz parte da minha crença/ Chegar ao som de uma canção

O Nordeste é bom, mas não é bombom com recheio
Mas tudo que me custa caro, eu dou um jeito e barateio
Na escuridão viro luz e o caminho eu clareio
E antes que a casa caia, eu me transformo em esteio.
Tô na área e não aceito ser jogado pra escanteio
Dou a cara às palmas e as vaias a tapa eu floreio
Lá na Ilha do Amor a maré vai e vem com galanteio
E se a vida é uma escola, então vai ter que ter recreio.

Ô de casa, dá licença/ Sou do Rio Maranhão
Faz parte da minha crença/ Chegar ao som de uma canção.

Bom mesmo é amar e amar e amar sem receio
E se não amo meu inimigo, mas também não odeio
Se me convidar para a ceia, eu sento à mesa e ceio
O trânsito para a paz tem que ser livre, sem bloqueio.
Mas cuidado com a paixão, faça a manutenção do freio
Um coração apaixonado quer tudo, todo, não divide ao meio
Amo esta pátria amada idolatrada e salve salve o seu seio
Mas sou filho, tenho direitos, neste país que é nosso e não alheio.

Ô de casa, dá licença/ Sou do Rio Maranhão
Faz parte da minha crença/ Chegar ao som de uma canção.

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Obs: ESTE EU CANTO, E ABRE O ESPETÁCULO.

S U T I L M E N T E

MANOEL HERCULANO

Quando deixei escapar aquele olhar suplicante
Quando prolonguei ao máximo aquele aperto de mão
Quando quase exagerei naquele abraço
Quando me atrapalhei ao beijar seu rosto e por pouco não beijei sua boca
Quando gaguejei ao pronunciar uma única palavra, te cumprimentando
Quando fiquei mudo naquele encontro casual
Quando calei os suspiros gritantes da minha alma
Quando o meu sorriso amarelou e escondeu-se envergonhado
Quando não foi possível contar o sonho que tive com você
Quando esqueci de fechar a boca ao te encontrar
Quando insisti para que ficasse, sem um porquê
Quando consegui saborear aquele seu beijo que nunca provei
Quando me ausentei por alguns segundos ao ouvir sua voz
Quando meus braços obedientes me desobedeciam e entrelaçavam seu corpo
Quando minhas pernas trêmulas teimavam em correr na sua direção
Quando eu tropeçava em meus próprios passos e cambaleava feito "o bêbado e o equilibrista"
Quando as ideias embaralhavam e as palavras formavam outra frase
Quando meus olhos, cegos, não enxergavam outra flor, nem outro ramo
Quando tudo isso acontecia, admito, agora, e não reclamo
Era todo o meu ser que sutilmente berrava: Eu te amo!

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Obs: Eu participo de um grupo (OLDI - Oficina Literária Democrática Independente), que se reune quinzenalmente no Salotto Letterario da Myriam de Filippis, em Copacabana, e formou-se a partir de Oficinas para autores coordenadas por J.P.Roriz no Castelinho do Flamengo. Quando cheguei no grupo (abril de 2008, convidado por Anna Fortes), que a cada reunião sugere temas, uma das sugestões foi "SUTILEZA". Que medo! Mas fui aprovado e gosto do poema, embora nunca tenha conseguido decorá-lo. Talvez por ser (nada sutil) muito romântico... E você, gostou?

DESCOMPOSTO

MANOEL HERCULANO

Dia desses eu acordei e me senti assim, como direi, um tanto descomposto
Isto, antes de ver este meu exótico rosto
Sei lá, eu me sentia meio sem graça, mal acabado, sem sal
Uma verdadeira farsa, sem aquela beleza de sábado, sem nenhum apelo sensual
Um ser que nem de longe lembrava alguém com borogodó, etc e tal
E quando me olhei no espelho, me assustei
Custei a acreditar que aquele era eu
O fofo, a coisinha mais linda da mamãe! Cadê? O que aconteceu?
O amado, o inteligente, o engraçado, o importante
Mas aquilo, sem estilo, tão desinteressante!
Dei meia volta e em seguida dei a volta por cima
O quê que há! Pra cima de muá? Digo, pra cima de mim?
Não, decidi, isso não vai ficar assim
E já no clima, apelei para o humor, o amor, a rima
E como primeira providência, sem clemência
Coloquei o espelho de cara pra parede
Deve ter dormido na rede, sem conforto e amanhecido todo torto
Imagina, me sentir daquela forma
Só porque o espelho acordou fora de forma
Não, a reação foi imediata, na lata:                                                                                                       Lavei o rosto, escovei os dentes, arrumei os cabelos, esnobei os pentes
E sem apelos, após o café
Novamente eu me pus em pé, na frente dele
Firme, seguro, nem parecia aquele
E repetia confiante: sou interessante!
Não deu outra, só deu eu
Frente a frente com o espelho
E já vendo tudo azul, branco, vermelho
Eu perguntei: espelho, espelho meu...
Nem concluí, eu mesmo respondi: lindo!!!

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Obs: ESTE FOI O PRIMEIRO POEMA DA SÉRIE "ESPELHO". E ME PROPORCIONOU CONHECER VÁRIAS PESSOAS BACANAS, ENTRE ELAS, A MÃE DA Natalie, MINHA AMIGA Aline Reis, QUE FEZ ESTE BLOG PARA MIM E ME CHAMA DE PÁSSARO!!! NUNCA PERGUNTEI QUAL DELES...