segunda-feira, 8 de novembro de 2010

VERSOS SEM MÉTRICA

MANOEL HERCULANO

Lá onde nasci, quando lá eu nasci, lá não existia luz elétrica
Eu só fazia ligação através da oração ou com meus versos sem métrica.
Mas no céu passava avião, e pássaros, e nuvens em forma de algodão
No mais, era aquela angustiante paz, dura realidade ou pura imaginação
Lugar longe demais da cidade, os sonhos não chegavam pela televisão.
Diziam: aqui só cresce quem teima, e sem guloseima, sem reverso
E para aquele menino, franzino, o tal destino parecia muito perverso.
Não existia estrada nem de barro, muito menos carro, bicicleta
Não existia shopping, supermercado, nem refeição completa
Nem cinema, teatro com palco, pódio com lugar mais alto, para o atleta.
Mas tinha fruta no pé, tinha banho na água corrente do igarapé.
Tantos caminhos para nenhum lugar e a certeza que eu iria chegar.
Tinha a família que nos ama, nos sufoca, nos chama, nos traz de volta.
Tinha o sonho, embaixo da árvore ou na rede, no meu castelo sem parede
Vendo as estrelas, querendo ser estrela, tendo a lua como minha lady.
Tinha a cigarra, a coruja, fazendo farra, lavando a roupa suja.
E muitas palmeiras, de babaçu, onde nem sempre cantava o sabiá
O cotidiano sempre nu e cru, apesar das plantas, das santas e das... sei lá.
Mas tinha também o tempo da colheita na roça
E a receita de uma alegria reeleita que era só nossa.
Tinha a esperança, a própria teimosia, e a perseverança da poesia.
Tinha toda uma vida, cada instante com sua pobreza, sua beleza
Além de todo o restante que em si nos completa
E por tudo isso é que eu tenho quase certeza que já nasci poeta.

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Este eu fiz há quase um ano, e hoje (já são 2:30h do dia 09/11/10) apresento a vocês esta minha recordação em forma de poema... Comentem, por favor! Estou sempre por aqui, apesar dos intervalos nas postagens.

P.S. No Facebook tenho postado poemas curtos. Curta-os...