quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

RETRATO FALADO

MANOEL HERCULANO

Bem feito, bendito, dito e feito, digo e repito: eu não sei
Não sei porque, quando, onde, como aconteceu
Na verdade, confesso que nem doeu
Foi tudo muito rápido, automático, mágico
E eu só sei que naquele segundo o mundo emudeceu
Ela me tomou de assalto, aliás, aquilo foi um assalto
Mal me lembro que era final de setembro
E ela, uma fera, disfarçada de primavera
Mais que isso não me recordo
A não ser quando eu acordo, olho a natureza
E, vagamente, porém, perfeitamente
Dou de cara com sua irretocável beleza
Olhos castanhos que de tão belos pareciam estranhos
Mãos de fino trato e uma boca que era um desacato
Era um gingado, um rebolado e um par de pernas
Que saíam por aí fazendo badernas
Da ponta dos cabelos aos tornozelos, pura provocação
Acima e abaixo da cintura, estonteante tortura, tentação
Olha, foi um grande susto
Mas aquele busto panorâmico amenizava meu pânico
Pois quando ela esbarrou em mim, pensei: é o meu fim
Ao tocar sua pele comecei a trocar R por L
Como um relâmpago ela roubou meu já descrente coração
Me acertou no âmago, nem deu tempo de tentar uma reação
Acho que foi isso, doutor, e desde então assim estou, abalado
Mas sobre um amor imponderável não dá para ficar calado
Como também não é recomendável confiar neste retrato falado 

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***** Após um tempo pensando, escolhendo (muitos poemas necessitando de revisão e outros de conclusão) me decidi por este que escrevi em 2010. Espero que curtam. São 17h do dia 12/12/12. Que data!!! Comentem! Obrigado! Beijos e abraços.

PS: Este poema, que eu nunca havia nem lido em público, foi escolhido pela minha amiga Márcia Drumond para ser falado em seu casamento com Cláudio, ontem, dia 10/08/13. Confesso que relutei um pouco. Por que não um dos que já sei de cor? Mas ela queria este, fazer o quê?... Falei e fiquei surpreso com o retorno que tive lá mesmo, agradou tanto que o estou vendo com outros olhos, acho até que vou colocá-lo no espetáculo. Porém, tive que mexer em alguns versos, pois para decorar um poema ele tem que se ajustar a uma certa musicalidade. Mas agora acho que coloquei o ponto final, já é BENDITO. Obrigado, Márcia. Agradeço a todos!