segunda-feira, 29 de outubro de 2018

TIRANDO DE LETRA

MANOEL HERCULANO

Em certo dia
quando eu ainda vivia naquele universo
onde meu verso se perdia
abri um livro à procura de uma palavra de arrimo
desde então, pelo simples senão, eu rimo
e sigo esta romaria rumo ao poético
sem a pretensão de ser profético

Livro aberto assim de forma aleatória
livre e perto da plataforma de trajetórias
letras, palavras, talvez algumas histórias
e toda história quer ser contada até virar a página
até girar pela pátria, patinar pelas mãos feito pátina
toda história fica desapontada se não chega sua vez
se não a contam outra vez, se não vira "era uma vez"

Fiquei ali alheio olhando as letras
com o mesmo olhar que tinha para minhas irmãs pretas
uma ou outra palavra falava comigo
outras não faziam o menor sentido
mas parecia que ficava subentendido
que na página seguinte
o entendimento chegaria com um certo requinte
com os ouvidos de um poema ouvinte

Quantos encantos, tantos espantos
como quem ouve ou enxerga pela primeira vez
devido a outro tipo de cegueira e surdez
porque livro é uma casa habitada
habituada com gente entrando e saindo
contente, cantando, chorando, sorrindo

Suas páginas são caminhos e avenidas
são destinos de preces atendidas
que parecem dizer: tá valendo, vai lendo
ainda existe quem consiga ler o céu
naqueles mundos sem carro nem carrossel

Quando me dei conta já sabia fazer conta
a rua já não era tão estreita
e eu já estava tirando de letra

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***** De volta. Demorei porque passei um mês no MA,
tanta coisa aconteceu! Voltei, muitas ideias, muitos poemas
iniciados mas até colocar o ponto final... Enfim, este escrevi
no Dia do Poeta (20/10/18) e coloquei o ponto final (acho)
hoje, Dia Nacional do Livro: 29/10/2018. Agora são 19h.
Ah, ontem foi o segundo turno, e deu J.Bolsonaro?! Aqui
no Rio, W.Witzel?!?! Em SP, J.Dória! Deus de Santa Isabel!