segunda-feira, 15 de agosto de 2016

MENINO, MENINO

MANOEL HERCULANO


Bem vindo à selva
Por favor, entre, sente-se, se sirva
Mas antes, pose para uma selfie
Nome: Luiz Manoel da Silva

Menino, menino, aonde você pensa que vai
assim, sem mãe nem pai?
Olha aqui, olha lá, aqui não é acolá
a selva é urbana, não é humana
Salve-se, você é apenas um Silva
e quem não é salvo vira alvo
na selva urbana primitiva
Trocar tua cabana por Copacabana
por um barraco na periferia?
Ah, cidade maravilhosa, como eu também queria!

Pai, eu vou, mãe, me solta
Eu prometo, vai ter volta

E aí eu fui, fui ver qual era
de repente parecia que eu vivia em outra era
falei: já é, já era
Porque não era uma vez
era toda vez, todo santo mês
Não tinha o que colher, o que comer
era de se envergonhar
às vezes não tinha nem o que sonhar

Menino, menino, presta atenção
você não acha que é muita pretensão
um sonho tão alto, sair da roça pro asfalto?
Na selva urbana não tem só animais e homens do mato
tem também o bicho homem que diz:
perdeu, me passa o que é teu ou eu te mato

Rio de Janeiro não é um riacho
com canoas deslizando rio abaixo
Sim, é um Rio lindo
como a poesia de uma tarde caindo
Mas é cheinho de novidade e confusão
eita lugar pra ter ilusão, inspiração
muito mais que no rádio e na televisão
Rio de outra vertente
nosso Rio que não nos pertence

Mas sobre isso eu não quero falar
sobre isso eu não vou calar
Porque não basta fazer barulho
tem que encher o peito de orgulho
Subir morro, descer ladeira
apesar dessa ordem desordeira
Sempre com um poema em riste
e aquela esperança corajosa que resiste

Menino, menino
a essa altura da vida
debaixo desse céu
que te salve a leitura
Nossa Senhora Aparecida
Padim Padre Cícero
e a literatura de cordel
E tudo mais o que a Escola da vida ensina
Menino, não desanima, não desanima

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***** De volta, e com mais um poema encomendado.
Eu gostei, e você? Diga-me. Já é dia 16/08/16, 00:30h.
Obrigado. Abraço.