quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

SOLIDÃO DIGNA

MANOEL HERCULANO


Eu quero fazer uma solicitação à solidão
Para quem vive sozinho e leva um vidão

Quero dizer da solidão dos que não se dão
Dos sólidos, dos sórdidos, dos que só dão
A solidão daqueles que vivem de prontidão
Dos solteiros, dos sorrateiros na multidão

Quero falar da solidez de todas as solidões
Que correm pelos rios, pelo rio Solimões

Mas eu quero a solidão digna dos poetas
A solidão que instiga, que nos projeta
Nos leva para além dos campos de algodão
Eu quero os meus cem anos de solidão.

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--- São 2:15h da véspera de Natal (24/12/10), e me deu vontade de postar esta minha visão sobre a dignidade da solidão...

domingo, 5 de dezembro de 2010

VOZ DA CONSCIÊNCIA

MANOEL HERCULANO

Com licença, esta é uma voz da consciência:
Hum hum humhumhum...
Ouça como quem um dia ouviu o apito negreiro do navio
Como quem se importa com o que realmente importa
Ouça como quem ainda ouve o apito da fábrica
Como se nossas digitais fossem iguais, impressas na mesma gráfica
Como se estivéssemos com os dois pés no chão da África
Ouça, ouça o canto da matriarca de todas as raças
O lamento dos caçadores e principalmente das caças
Ouça o que nos diz a lei da igualdade
Da liberdade, da responsabilidade, da solidariedade
Ouça aquele grito, antes que ele se perca no infinito
Ouça o gemido, e o poema que também quer ser ouvido
Ouça a prece, não se abandone, não se aprisione, não se apresse
Vista-se de mamãe África, com todas as suas cores e sabores
Porque se as cores têm afinidades, as raças têm africanidades
E eu não passo recibo, não dou cheque, já é sabido, sou black
Ouça minha voz, e cá entre nós, a canção que canto não é grega
Sabemos que as estrelas brilham muito mais numa noite negra
E se o negro já entrou para a história e está na ciência
Paciência, nada de ter piedade, sentir dó, o negro não está só
A ideia é ter atitude, e não apertar novamente o nó da chibata, da violência
Para que a negritude entre definitivamente na ribalta da nossa consciência.

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--- Neste dia 5 de dezembro (agora são 22h), estou postando este poema que fiz para falar no CORUJÃO da POESIA, no OI FUTURO de Ipanema, dia 25 de novembro/2010, pelo dia da Consciência Negra. Gostei, e você? Comente, por favor. Até breve!